Severino Cardeiro era o protótipo do velho do saco, com barba grande e suja, bigodes amedrontadores, cara de mau, aspecto e cheiro de quem não gostava muito de tomar banho. Ele era um mistério. Meio antissocial e morava em uma casa mais estranha que ele, praticamente uma caverna pré-histórica.
A “maloca” dele, de taipa, ficava onde é a Capela São Francisco (Paraguai). Ninguém sabia onde era a cozinha ou a sala, a menos que o fogão estivesse aceso e a fumaça subisse pela chaminé, parecia mais uma caixa de abelha. A esposa dele também dava medo, não me lembro de ninguém que tivesse feito amizade com ela.
Como Seu Severino tinha o aspecto descrito acima, assustava as pessoas e andava do jeito que bem entendia, não dava a mínima para estética. Quando bebia, era realmente um desmantelo. Justamente num dia desses, ele chegou à casa do meu avô (Zé Pedro), com a braguilha aberta e aparecendo os pelos pubianos (uma mata!).
Foi um deus-um-nos-acuda. Causou maior mal-estar, mas quem tinha coragem de avisar ou mesmo reclamar a “pouca-vergonha”? Eis que minha tia teve uma grande ideia: foi à cozinha, pegou um cordão de sisal (embira de agave), agarrou o velho pela mão, puxou para trás da porta (aquelas dividas em duas), pegou os “troços” dele e deu um nó cego juntando tudo.
Depois que o soltou, acho que deve ter prendido além da braguilha, ele saiu meio desconfiado e mancando, como se algo estivesse prendendo suas partes, como diz Socorro Fernandes. Pegou o caminho de casa com “gosto de gás”. Parecia um cachorro quando ouve o barulho de um foguetão.
Nós ficamos rindo, tanto da atitude corajosa de minha tia, quanto da aflição que o coitado do velho estava passando. Imaginávamos a dor que ele poderia estar sentindo ou na vergonha que ele deve ter passando, tendo que alguém lhe fechasse a braguilha de forma tão inesperada.
Zélio Sales
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