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sábado, 15 de janeiro de 2011

Catembas Iluminadas III




Como escrevi nas postagens anteriores (Catembas Iluminadas I e II) saí de Areial faz tempo. Fui para o seminário trabalhei, trabalhei  com a Pastoral da Terra, depois, envolvi-me no movimento popular e no Partido dos Trabalhadores, tornei-me liderança das ocupações urbanas onde dirigi a ocupação da Ramadinha I e II,  no Bairro Bodocongó.

Mas paguei um preço muito alto por mais esta ousadia.  Fui preso, arbitrariamente,  duas vezes.  A imprensa me estigmatizava como o “Rei das invasões”. Não podia ter uma residência fixa porque era constantemente ameaçado de morte e vivia em  local apoiado e protegido pela própria população. Foi nessa época que fui detido mais uma vez.

Na ocasião de uma ocupação de terra, fui preso e vítima de tortura. Um dos policiais colocou uma arma com apenas uma bala e fez roleta-russa em minha cabeça, ao mesmo tempo falava: “Olha como se mata um comunista FDP!”, e puxava o gatilho.

Eu achava que aquele seria o meu último momento, sem falar nas duas sessões de espancamento que fui vítima. Minha sorte foi que, no momento que estava sendo espancado, chegou uma repórter de nome Vanda, daí então eles pararam de me espancar.

Ela, “sem querer”, salvou minha vida.  Salvou a vida de uma pessoa que talvez não suportasse mais a sessão de espancamento, pois nestes momentos o torturador se empolga demais, porque enquanto eles batem, gritam, babam, como se estivessem movidos  com um ódio insano e sem limites, acabam  levando sua vítima ao óbito.

Fui colocado na mesma cela na qual, na noite anterior, encontraram três corpos que, segundo a polícia, foram vitimas de suicídio.  Mas conversando com os outros presos cheguei à conclusão que foram vítimas do esquadrão da morte que atuava dentro da estrutura de segurança pública. Minha  prisão durou o dia inteiro.

No entardecer, fui chamado para conversar com três homens,  em uma sala de um aspecto muito feio. Parecia que a sala estava em reforma, mas logo  fui tranquilizado por uns  dos homens que pediu que me tranquilizasse, ele era advogado da Associação dos Funcionários Públicos e estava ali  a mando da Companheira Cozete Barbosa,  que depois de tornou prefeita de Campina Grande. Sou eternamente grato pela atitude da companheira Cozete.

Com a disposição de convocar a imprensa e denunciar tudo o acontecido, fui desmotivado pelo presidente do PT, ali mesmo, dentro da delegacia, que me aconselhou a deixar para lá, que isso poderia sobrar para o partido.

Nesse momento, estava nítido que dentro dos partidos de esquerda, principalmente, tem gente que se aproveita da militância do povo para se promover, mas, quando chega a hora “de a onça beber água”, caem fora e deixam na pista aqueles que são tratados como se fossem animais selvagens que eles chamam de inocentes úteis.

Em 1988, chegava ao Rio de Janeiro. Fui morar na cidade de Nova Iguaçu, onde permaneço até hoje. Exerci e exerço várias funções profissionais.  

Gostaria de registrar que todas as minhas saídas dos seminários se deram por conta de assumir a minha condição homossexual. Sempre achei que a orientação sexual não deveria ser motivo de afastar as pessoas do seu sacerdócio.  A  pedofilia, sim, deveria ter uma condenação mais rígida por parte da igreja, mas pelo contrário, isso acaba se tornado uma praga que se está não somente no campo religioso, mas em muitas famílias, haja vista,  segundo dados policiais,  a maioria dos pedófilos é composta por “machões” que violam crianças.

Os homossexuais são minoria dentro da questão da pedofilia, mas de qualquer forma é uma patologia que deve ser sempre combatida. Por isso tenho até hoje a minha consciência limpa, pois sempre combati, não somente a pedofilia, mas também a homofobia dentro das instâncias religiosas.

Hoje trabalho na Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu.  Consegui este emprego através de Lindbergh Farias, um paraibano que fez uma grande administração na cidade.  Trabalho na unidade móvel, um ônibus que leva exame preventivo, consulta médica, saúde bucal, verificação de pressão arterial, exame de glicemia,  e prevenção as DST/AIDS que é a minha  especialidade.

Toda quinta-feira deixo a unidade móvel e faço  o  trabalho de prevenção que se chama, “Saúde no cárcere”, na Delegacia de Polícia com os quatrocentos presos acautelados pelo Estado  que ficam na Cadeia Local em Nova Iguaçu.

Não me arrependo do que fiz, mas buscava uma revolução que seria de fora para dentro, e hoje compreendo que a verdadeira revolução e mudança vêm de dentro para fora, ou seja, se quero mudar o mundo para melhor, tenho que começar dentro de mim.


Eugênio Ibiapino

Filho de Eurico Ibiapino e Angelita Ferreira, meus avos paternos, Sesinando Ibiapino e  Maria Madalena da Paz, meus avós maternos, Sebastião Ferreira (Sebastião Chole)  e Santina Balbino. Nasci em 1962, numa rua atrás da Rua Manoel Clementino, e depois passei a maior parte da minha infância e o começo da minha adolescência na Rua Sebastião Benjamim, popularmente conhecida como “Rua da Briga”.

Fundador do movimento LGBT da Baixada Fluminense e Membro Titular do Conselho Estadual de Políticas Públicas para LGBT (Lésbicas, Gays,  Bissexuais, Travestis e Transexuais)  Coordenador Geral da Parada LGBT de Nova Iguaçu; Vice-presidente do Grupo 28 de Junho. 

(21) 9362-8785


2 comentários:

  1. Nossa, cara, você sofreu um bocado. Parabéns por sua tragetória. Você é digno de meu respeito, não fiz metade do que já fez.

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  2. Lendo a matéria do Eugênio, filho de Eurico (conversava bastante com seu pai). Sobre a Ramadinha I e II, na época não existia a entrega domiciliar de cartas na região. A Ramadinha I ainda estava se formando, um pouco separado do bairro de Bodocongó. Todos aqueles conjutos: dos Professores (Universitário), Severino Cabral, Malvinas, ainda não existiam. Depois que todos foram construídos, eu e outro colega começamos a explorar e criar o roteiro de entrega de cartas. Até hoje, os carteiros que entregam suas correspondências, seguem o mesmo roteiro que criamos. Na Ramadinha I, começei também a criar o roteiro de entrega, e no terreno vizinho, lembro-me muito bem, começaram a invadir e construir casébres. Oficializado em documentos pelos Correios, só existia a entrega da Ramadinha I, e a invasão foi tão intensa, com aqueles movimentos de trabalhadores desempregados e sem casa para morar, que já existia várias ruas, sem luz, sem água e pontos comerciais. Junto com a chefia fui encarregado de desbravar a região, ou seja, foi aí que os moradores batizaram de Ramadinha II, pois fazia ligação com a Ramadinha I. Começei explicando as pessoas que começassem a colocar a numeração em suas casas, e a população com suas reivindicações diante das autoridades, como a Prefeitura, os Correios e outros órgaos, os moradores venceram a luta. Fui um dos pioneiros na criação do roteiro de entrega domiciliar de cartas no conjunto dos Professores, Severino Cabral, uma parte das Malvinas, Ramadinha I e II. Portanto, digo que você teve muita sorte, porque as rebeliões de moradores diante das autoridades, com conflitos de pensamentos e idéias geraram todas essas coisas em que você cita em seus depoimentos. Assim como você conterrâneo, eu creio que também tenho um pouco de contribuição. Vivi e presenciei esses fatos. Você foi um guerreiro conterrâneo!

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