De Areial carrego muitas lembranças: o circo de lona aberto em cima; as brincadeiras de queimadas (baleada), no grupo escolar; a Paixão de Cristo, encenada pelos jovens atores da cidade; os Pastoris do Cordão Vermelho e do Cordão Azul; os mamulengos de madeira; os cantadores de viola; os emboladores de coco, e destaco a peça de Natal na cidade de Areial.
Atualmente, nos habituamos, infelizmente, a pensar o Natal como um momento apenas de gastar dinheiro e comprar presentes. Este dia deveria ser vivenciado de outra forma, deveria ser o momento que floresceria em nós um sentimento de compaixão e de amor ao próximo.
Acredito que no coração dos brasileiros, principalmente dos moradores de Areial, ainda deve existir o antigo Natal da cidade de Areial. O Natal da lapinha (presépio) de Tia Maricota: uma artista plástica que foi vereadora numa época que não se ganhava dinheiro para trabalhar pelo povo.
Na época de Natal, ela abria sua casa para que todos presenciassem sua famosa lapinha. A lapinha dela era uma atração turística, não somente para o povo de Areial, como também para moradores dos municípios vizinhos.
Tia Maricota (mãe de Darcy Pereira) era irmã de meu pai, uma pessoa bastante querida na região. Ela fazia há muitos anos o que Joãozinho Trinta faz hoje no carnaval: transformava o lixo em luxo. Assim era tia Maricota, que juntava as cascas e catembas de coco, que eram ornamentadas com lindas pinturas. Por último, fazia uns arranjos iluminados que deixava todo mundo perplexo com a beleza da sua criação.
Todo ano a lapinha de Tia Maricota fazia sucesso e todo ano ela o fazia de maneira diferente, mas as catembas pintadas e iluminadas eram presença constante nos natais de Areial.
Tia Maricota era a mulher que valorizava as palhas e catembas de côco, iluminado um presépio que continuara dentro de todos nós. Um presépio de esperança que não deve morrer jamais. Esta mulher falava de um menino que não nasceu dentro dos templos, dentro das mansões, dentro de uma casa rica, mas de uma pessoa que nasceu dentro de uma terra invadida, um terreno abandonado que veio trazer à Terra uma mensagem de paz e fraternidade, uma mensagem de compaixão para com aqueles que mais sofrem.
Um dos meios da divulgação das festas natalinas era a rádio local que era comandada por Antônio Balbino, primo de minha mãe, que através da sua técnica levava alegria para muitas residências daquela localidade. A rádio local era constituída de um aparelho transmissor, uns quatro alto falantes tipo difusoras grandes que eram colocadas em um pau bem alto que era fincado ao chão.
Dessa forma, mundo tinha conhecimento das mortes e dos nascimentos, todo mundo apreciava as músicas de Agnaldo Timóteo, Evaldo Braga, dentre outros cantores famosos da época.
A rádio também era utilizada para os rapazes apaixonados oferecerem músicas de amor para suas paqueras, mas o dia de visitação da lapinha de natal era a notícia que todo mundo adorava escutar da “mídia” difusora local.
Quando fico desanimado, quando “bate” a tristeza e o sentimento de impotência frente à grande muralha de tristeza e opressão, me lembro da “lapinha” de Tia Maricota. Assim, as catembas iluminadas continuam dentro de mim brilhando e me dando forças para enfrentar os Herodes que até hoje continuam perseguindo o menino Emanuel.
*Eugênio Ibiapino
Sou filho de Eurico Ibiapino e Angelita Ferreira, meus avos paternos, Sesinando Ibiapino e Maria Madalena da Paz, meus avós maternos, Sebastião Ferreira ( Sebastião Chole) e Santina Balbino. Nasci em 1962, numa rua atrás da Rua Manoel Clementino, e depois passei a maior parte da minha infância e o começo da minha adolescência na Rua Sebastião Benjamim, popularmente conhecida como “Rua da Briga”.
Hoje trabalho na Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu, na unidade móvel, que leva exame preventivo, consulta médica, saúde bucal, verificação de pressão arterial, exame de glicemia, e prevenção as DST/AIDS que é a minha especialidade.
Toda quinta-feira deixo a unidade móvel e faço este mesmo trabalho de prevenção que se chama, “saúde no cárcere”, na Delegacia de Polícia com os quatrocentos presos acautelados pelo Estado, na Cadeia de Nova Iguaçu.
Fundador do movimento LGBT da Baixada Fluminense e Membro Titular do Conselho Estadual de Políticas Públicas para LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) Coordenador Geral da Parada LGBT de Nova Iguaçu; Vice-presidente do Grupo 28 de Junho.
Contatos: Grupo28dejunho@yahoo.com.br
(21) 9362-8785
Eta, eu me lembro, sim, de cada coisa que você descreveu. Que pena que as digitais não existiam e as fotos eram caras. Não sei se existe registro dessa lapinha.
ResponderExcluirzELIO AMIGÃO,AS FOTOS DAS lAPINHAS DE MINHA SAUDOSA mÃE EXISTEM SIM VÃO TODAS PRA INTERNET.bEIJOS
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