Ser areialense é ser a pessoa atuante na história do seu povo, passada e futuro. É ser moleque no seu tempo de criança e ter roubado as goiabas do sítio de seu Nanim (hoje já com casas e ruas). Ser areialense era ter bebido (e ainda se bebe) a água do Cacimbão e carregado água da em galão de zinco ou barril de borracha e ter pescado de anzol na Barragem, com abundância de traíra e tilápias e ver as galinhas d’água.
Ser areialense era ter o privilégio de aprender a nadar no Açude Velho escondido dos pais (não aprendi a nadar ). Ser areialense era ter dançado “Noite de ano” no forró e no “cortiço” de Antônio Pereira.
Ser areialense era ter (os mais antigos) estudado na escola onde hoje está a praça de eventos da cidade, escola com sua calçada bem alta e com seu piso tão liso (era cimento queimado como se falava) que muita gente quebrou perna ao escorregar (meu cunhado Toinho Barbosa foi um deles), ter professora como dona Nanu, dona Adailde Alcoforado, dona Lourdes de Tio Deca e dona Josefa Macena.
Ser areialense era também ter estudado (já no meu tempo) na escola Inácio Gondim, com as professoras, Bernadete, mais conhecida como Berninha (minha primeira professora, sobrinha do meu pai ), dona Mazinha também minha professora, Maria Barbosa, dona Beli de Antônio Barbosa e muitas outras.
Ser areialense era ter comido “cachorros-quentes” de seu Dunga, com aqueles pães enormes e com carnes de todo tipo (de galinha de capoeira, de peru, de bode e boi), debaixo das barracas de palhoça de palha de coco catolé (o local onde hoje é a praça de eventos), nos finais de ano, acompanhado dos refrigerantes Crush e Grapete os refrigerantes da época e tudo sem ser gelado.
Ser areialense era escutar a difusora de Severino Donato nas festas do mês de maio e, nos finais de ano, andar no carrossel de Sebastião Victor todo de madeira e empurrado por braços humanos.
Ser areialense era correr nos cavalinhos e canoas do parque Lima e escutar os postais sonoros de Raimundo do Parque. Era ter tomado banho no tanque Saraíso e ver a fabricação de telhas e tijolos na olaria de Antônio Pereira.
Ser Areialense era ter participado do “Centro Estudantil de Areial”. Nos finais de semana com as moças e rapazes que se reuniam no salão (hoje bar do Carlinhos) para escutar músicas da Jovem Guarda. Ter dançado nos assustados, em que se fazia numa residência com muito respeito.
Ser areialense era ter provado as delícias dos doces e cocadas na barraca de seu Belo, ao término da missa, aos domingos e no mesmo trajeto (no caso, tempo de Natal) entrar na casa de dona Maricota e ver sua lapinha ou presépio todo iluminado.
Ser areialense era ter a alegria de ir para Campina Grande na Marinete (era chamado também “a sopa”) de seu Chico Pereira, indo por Lagoa Salgada, Montadas e chegando aos Cuités. Na volta pra casa, à de tardinha, com o chofer Valdemar Pereira, já na entrada da cidade, vinha apitando, dando a entender a população que estava chegando.
Ser areialense era assistir uma partida de futebol do antigo Atlético no campo de aveloz com seus baluartes futebolísticos, como o grande goleiro Gute e Williams, respectivamente, o Zé Miguel, Antônio Basílio, Jaime Melo, Edmilson de Chico Tito, Agamenon, Jaime Tito, Zequinha, Milu, Murilo, Nego de Zu, Chaguinha e muitos outros.
Ser areialense era ter cortado o cabelo com seu Manoel Luiz, com aquele jeito dele, seu cabelo na brilhantina e bem engomado. Era ter comprado na bodega de Sebastião Victor, Pedro Grangeiro, Severino Cândido, Severino Donato, Zé Leite, Antônio Nazário, Zé Luiz e Zé Bento.
Ser Areialense era ter visto os consertos de tamboretes, mesas e cadeiras na oficina de seu Zé Vieira, do flandrileiro Zé Capim com fabricação de lamparinas, bacias de zinco, latas d'água e ralos de lata de óleo, para ralar milho no tempo de São João. Sabino com sua fabricação de cocadas de coco e também feitas de rapadura, das sordas e sequilhos (por coincidência os três moravam pertinho um do outro).
Ser areialense era admirar os inventos de Zé Bebé (uma delas foi uma bicicleta toda de madeira), também com os trabalhos de carpintaria de seu Né, que nas horas vagas também cortava cabelos e barba.
Ser areialense era escutar as estórias de João Alfredo e comer dos doces de tia Maria. Era, aos domingos, assistir a missa com padre Palmeira e escutar aqueles sermões.
Quem não conheceu Severino “pão-doce” que consertava sapato e alpercatas com aquela enorme barriga? Diziam que tinha uma solitária na barriga. Seu quartinho era na rua Joaquim Fonseca, antigos quartinhos de Zé Bento. Também quem não se lembra de dona Hozana com seus picados de porco e galinhas, no mesmo local vizinho de Severino “pão-doce”?
Ser Areialense era sermos um dos maiores produtores de batatinha da Paraíba como o Sr, Antônio Apolinário (meu pai), Antônio Barbosa Alves, Chico Januário, seu Raimundo, Manuel Rodrigues e Dorgival Cabral.
Ser areialense era se refrigerar no oitão da igreja nos dias quentes e se deliciar com a brisa dos ventos que ali sopram até hoje.
Ser areialense era ter tido uma candidata miss Paraíba (Maria das Graças Donato (Gracinha, Garota Cenecista de Areial) que concorreu no cenário nacional (classificada em quinto lugar no Brasil).
Enfim, ser areialense é ter orgulho e não ter vergonha de dizer que é dessa terra chamada, Areial.
Trecho extraído do livro: “História de Areial”, a ser lançado.
Eudes Donato
Filho de Antônio Apolinário Gonçalves e Hilda Donato Gonçalves, Funcionário Público da Empresa de Correios e Telégrafos, pesquisador, colecionador de vários itens, como gibis antigos, discos de vinil, livros sobre o cangaço, e grande acervo esportivo. Colaborador em pesquisas para a revista Placar da Editora Abril, Revista da Esperança, livro sobre o América Futebol Clube da cidade de Esperança, etc.
Belíssimo depoimento!
ResponderExcluirTenho certeza que caíram lágrimas de muitos leitores.