Compadre Dé Caxias e nenhum pé de feijão

De vários personagens ilustres de Areial, um que me enchia de orgulho quando passava por mim era Seu Dé Caxias, ou compadre Dé, como meus primos, netos de tio Quelé o chamavam. Ele sempre passava por nós, mesmo sendo um guri, e cumprimentava. “Bom dia, compade! Aquilo me enchia de orgulho. Ser compadre de Seu Dé... era uma satisfação.

Era outro contador de causos. Ele mentia com tanta maestria que a gente gostava mais das mentiras dele que as verdades de muito ‘caba besta’. Interessante a forma como inventava suas histórias, nem franzia a testa ou ria para sabermos que ele estava blefando. Contava aquelas anedotas como se dissesse a verdade para um rei.

Passei muito momentos engraçados com Seu Dé. Quando trabalhei no mercadinho de Rosivaldo (de Antônio Bento) e ele era nosso cliente. Para mim, a melhor de todas as histórias que ele foi capaz de criar foi uma que contou no bar de Seu Augusto (Pai de Buca, um bar que ficava perto da lagoa de Manoel Viana, não existe mais).

Era a manhã de um domingo de 1991. Tio Pedro havia chegado de São Paulo, ia lá para casa, no Sítio Furnas. Fez questão de entrar no Bar de Seu Augusto para tomar uma ‘bicada’. 

Depois de tomar umas e outras, Seu Dé saiu no terreiro, olhou para o céu e disse que precisava correr para casa. O terreiro estava cheio de feijão recém-arrancado, se não chegasse a tempo se perderia, pois ia cair um toró.

Aproveitamos o momento para nos despedir dos donos e fregueses do bar e acompanhamos Seu Dé, já que o caminho era o mesmo. Ele, com aqueles eternos pés descalços chega faceiro, com medo de o mundo desabar em cima de seu lucro.

Quando apontamos no terreiro dele não havia um único pé de feijão ou sinal que ali havia sido espalhada tão leguminosa.  Ele mais que depressa, olhou para tio Pedro, sem pestanejar, e disparou. “Tá vendo, Pedro, o que é casar com uma mulher trabalhadora. Maria colocou aquele alarme de feijão todinho pra dentro vendo a hora a chuva chegar tudo”.

Tio Pedro ficou todo sem graça, parecia que quem tinha acabado de inventar aquela história havia sido ele. Despedimo-nos de Seu Dé e meu tio só balançando a cabeça como se não tivesse acreditado em uma única palavra daquela mentira sadia de ‘compade Dé’.

Zélio Sales