Há sete dias, desde domingo (16/01), os familiares procuram por José Paz dos Santos, Zé Paz. Não se sabe se está vivo ou morto. Pessoas já dão por certo seu falecimento, apenas estão esperando achar o cadáver, assim como o foi com João Pimenta.
Lembro-me que em agosto de 2005, quando ainda estava na faculdade, tínhamos que fazer uma reportagem. Interessei-me pela história dele, já que foi nosso vizinho. Cresci na Rua Balbino do Carmo, mesma rua onde Zé morava, antes de ficar viúvo e ter sua família destroçada.
Passei cinco dias acompanhando-o, sem ser observado por ele. Tentei refazer seus passos, entrevistei sua irmã (Nazaré), sua sobrinha (Socorro Simão), seu “ex-patrão” (Hugo Luna), o proprietário do “cantinho” onde morava. Não conversei com nenhum de seus nove filhos, moravam fora.
Segundo Nazaré, antes de se casar Zé era muito vaidoso, andava perfumado, “alinhado, com cordões de ouro e um relógio Oriente com 24 rubis”. Mesmo assim, a família de Maria do Carmo (Dezinha) não queria o namoro, só aceitaram o casamento porque ela havia engravidado.
Em meio à pobreza extrema, tiveram nove filhos. O parto da última levou ao falecimento da mãe. Os avós maternos, que já cuidavam de alguns dos netos, assumiram a paternidade dos órfãos. Zé foi morar com os pais e a irmã, ainda solteira. Com a morte dos pais e o casamento da irmã, ficou sem lar.
A casa foi vendida e a “herança” repartida entre os irmãos. Zé passou a viver aqui e ali, primeiro na antiga Lavandeira, tendo como companheiros os insetos e o álcool. A Lavanderia foi demolida e Zé ficou sem teto. Bebia cada vez mais. Embragava-se para afogar as mágoas, sem perceber que o náufrago era ele.
Foi morar num cubículo de 2x3, alugado pela irmã, que também pagava para que lavassem suas roupas. Nenhum conforto. Apenas um sanitário e dois armadores de rede, nem energia elétrica havia. A irmã e o proprietário do imóvel, com medo que nos dias de embriaguez morresse eletrocutado, cortaram a luz. E assim passou a viver.
O vício o debilitava e o tornava invisível para a sociedade. Vivia como uma “coisa” e com tal função a atrapalhar os passantes. As roupas cada dia mais imunda, tanto pelo suor quanto pela urina e vômito. Passava até três dias sem visitar Nazareé, onde fazia as refeições.
Ninguém o queria por perto. Uns diziam que fedia; outros, devido à “saliência”. Para outros tantos não era mais humano, apenas um “troço” do qual queriam distância. E assim, esperava apenas último suspiro, pois a morte física já havia sido decretada há anos, muito antes de desaparecer.
Torço que seja encontrado: vivo ou morto. Segundo algumas pessoas de Areial, desde o anúncio de seu desaparecimento, seu filho (Ivanildo) não tem tido sossego. Vive de uma ponta a outro procurando por aquele que poucas vezes foi chamado de “pai” e que paz mesmo só teve no sobrenome.
Zélio Sales
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