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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Saudade das caieiras na Barragem e das batatas assadas


Houve um tempo quem em Areial, época de estiagem, que se faziam diversas caieiras. Não as de cal e gesso como acontecem no cariri ou no Rio Grande do Norte. Nossas caieiras eram de tijolo manual. Batidos (com grade de madeira) e cozidos na Barragem, principalmente.

A Barragem não era o único local de feitura de tijolo, mas concentrava a maioria das caieiras. Biu Salviano era um dos maiores fabricantes de tijolo. Eu mesmo fui um dos grandes pegadores de tijolo, jogados por Carlinho, sacristão. Quando se chega a certa altura da caieira, os últimos tijolos precisam ser arremessados.

Muitos das cacimbas, que estão sendo tapadas para urbanização da Barragem, surgiram de batidas de tijolo nas secas da Baragem. Muitas casas foram construídas com os tijolos feitos e queimados ali mesmo, principalmente os alicerces. Era preciso fazê-los, queimá-los e vendê-los antes que das cheias da Barragem, senão os tijolos ficavam submersos.

Mas o melhor das caieiras era os dias de queima de tijolo. Para os que gostavam de beber e de farra, o dia de acender era a festa. A lenha vinda do cariri, muita mata nativa foi consumida ali na Barragem. Catingueiras aos montes serviram para queimar tijolos. Os que não podiam comprar catingueira ou jurema, queimavam com aveloz, os olhos que sofressem a fumaceira.

Para nós, a molecada, bons eram os dois dias seguintes, quando as bocas já tinham sido fechadas e o  braseiro passava dias aquecendo os tijolos. Eram dias de assar batata doce, muitas vezes tiradas (escondida é claro) dos sítios de Josué e seu Gabriel. Os donos dos tijolos ficavam muito bravos, pois nós os afastávamos para assar as batatas nas frestas.

Era um cheiro bom. Tanto os tijolos queimando, aquele cheiro de argila quente, como as batatas. Chega ficavam murchinhas de tão assadas. As melhores eram as grã-finas (branquinhas e doces) e as “paraíbas” (quase roxas, mas de um açúcar concentrado).  Furtei muita batata do sítio de Josué para assar nas caieiras de Biu Salviano.

Vi, também, muita cara feia de donos caieiras, por afastar tijolos. Era uma época boa, mas não havia preocupação em saber de onde vinha aquela lenha toda. Atualmente, quase não existe mais fabricação de tijolos manuais, batidos e queimados nos barreiros de Areial.  Ou se constrói com pré-moldados de cimento ou com aqueles de olarias de Parelhas ou cidades vizinhas.

Já as batas quando há para assar, fazemos apenas nas fogueiras de São João ou dos santos do período junino. Borralho dos fogões de lenha não existe mais. Ainda sinto o gostinho daquelas batatas murchinhas e saborosas, com gosto de infância e cheiro de memória de criança. Eta, tempo bom!

 Zélio Sales 

Filho de Margarida dos Santos  Sales (de seu Zé Pedro) e Sebastião Salles (Basto Gabriel). Jornalista, blogueiro e descobridor de mundos. Nasci  e cresci em Areial, mas vivo em Campina Grande, desde 2006.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Quem não se lembra de seu Nô?


Nós no tempo de criança, oito nove anos, sempre fica guardado na lembrança algo que lhe chama atenção. Neste momento, as coisas vão acontecendo ao natural, sem darmos muita importância. Os tempos passam, você cresce, fica adulto, mas continua como criança, pensamento de quando era pequeno.

Lembro-me muito bem de um ceguinho (seu Nô) que toda sexta-feira, logo ao amanhecer vinha do Sitio Três Lagoas (será que era Três Lagoas?). Com o seu ritual de sempre: entrava na cidade descendo a rua do lado do cemitério sentido centro, pedindo uma “esmola pelo amor de Deus”.

Às vezes, vinha acompanhado, mas geralmente estava só com a sua bengala,  andando lentamente e com aquela sincronia. Quando terminava um lado da rua principal, imediatamente passava para o outro lado e começava a voltar para casa.

Nesse tempo Areial tinha casas até onde hoje fica a loja de material de construção de Marcos. A residência da gente era e ainda é defronte o Mercado Municipal.

Pois bem, quando seu Nô chegava à residência de meus pais, o relógio sempre estava marcando onze horas. Ele seguia este ritual rigorosamente todas as sextas-feiras.  Quando ele batia em nossa porta, eu saía correndo para pegar farinha, feijão ou outra coisa qualquer e  ele sempre falava:

-- Meu filho, Deus lhe pague.

Eu inocente chegava para minha mãe (Hilda) e dizia:

-- Mãe, ele disse que Deus me pagava.  Minha mãe, com aquele jeito de mulher católica fervorosa,  me falava:

-- Não, meu filho, ele está agradecendo e que Deus nos aumente cada vez mais nossa caridade e bondade.

Fui crescendo, o tempo passando e num determinado momento, passou uma semana, duas semanas e nada do ceguinho aparecer. Comecei a sentir a sua falta.  Eu naquela inocência comecei a fazer perguntas a minha mãe. Qual foi a minha surpresa, quando mãe diz:

-- Aquele ceguinho,  seu Nô, não aparece mais porque ele morreu.

Minha tristeza foi grande, pois gostava muito dele, aquele homem alto, já com suas sobrancelhas branquinhas, voz macia. Apesar de muito pobre,  sempre bem limpinho. Não sei de que família ele era, nem o seu nome verdadeiro,  na década de sessenta deveria ter uns setenta anos.

      Trecho do livro “Causos e estórias vividas pelo povo dessa terra Areial”  (a ser publicado )  


Eudes Donato

Filho de Antônio Apolinário Gonçalves e Hilda Donato Gonçalves, Funcionário Público da Empresa de Correios e Telégrafos, pesquisador, colecionador de vários itens, como gibis antigos, discos de vinil, livros sobre o cangaço, e grande acervo esportivo. Colaborador em pesquisas para a revista Placar da Editora Abril, Revista da Esperança, livro sobre o América Futebol Clube da cidade de Esperança, etc.



sábado, 29 de janeiro de 2011

Memórias de meu avô


Venho de uma família grande. Só da parte de meu pai são duas irmãs e três irmãos. Da parte da minha mãe são mais duas irmãs e um irmão. Desses, um monte de primos originou-se, mas avô mesmo só conheci um, vô Damião (pai da minha mãe), pois o meu outro avô Paulo Balbino já era falecido quando nasci.

Vô Damião era natural de Esperança. Desde menino, filho de família pobre, teve que se virar no mundo para ajudar em casa. Não teve a oportunidade de estudar, mas até hoje, desconheço qualquer pessoa que tivesse a criatividade que ele tinha.

Lembro-me ainda pequeno (ele com seus mais de cinqüenta anos) quando, esperto como sempre, foi fazer uma perícia no INSS para requerer um auxílio doença devido a um problema crônico em sua coluna.

Já longe das crises, mas quando o doutor começava a examiná-lo caía no choro, gritava e gemia ao ponto do médico cair em sua lábia e deferir o auxílio requerido. Após algumas perícias, seu benefício virou aposentadoria por invalidez tamanha às simulações todas bem sucedidas junto aos peritos do INSS.

Meu avô era um grande contador de histórias. Falava muito sobre os causos acontecidos em Areial. Falava muito sobre um porco encantado que aparecia à noite atormentando os moradores da cidade e de um Peru, também encantado que vivia cantando pelas esquinas de Areial (ao nos contar, fazia questão de dizer que as pessoas que se transformavam nesses animais eram dois desafetos dos tempos que trabalhava na Prefeitura).

Falava também de um guarda municipal que certa vez foi soprar o apito e acabou engolindo-o. Só Deus sabe se era verdade...

Embora não tenha frequentado a escola, sabia ler muitas palavras. Segundo ele mesmo, aprendeu sozinho. Era um grande inventor. Já aposentado, completava a renda fazendo antenas “espinha de peixe” para vender. Seu desejo era fazer uma parecida com uma parabólica.

Outra invenção sua era uma armadilha pra pegar bandidos que tentassem entrar em casa. Arrumou um pedaço de madeira grande que encostou no telhado e esticou um fio que era ligado na tomada para atacar algum possível invasor que viesse pelo teto. Inventou também um ventilador que lhe refrescava as noites quentes. Era muito medroso. Morria de medo de trovão.

Gostávamos muito de brincar com ele. Quando assistia algo na TV, onde apareciam mulheres seminuas, dizia que era uma pouca vergonha, mas nunca o vi desgrudar os olhos da TV. Adorava filmes de ação. Ia dormir muito tarde assistindo TV e no outro dia dizia que não tinha dormido nada, que estava cansado e coisas do tipo. Assistia TV no quarto de costas para a Televisão (pelo reflexo de um espelhinho), segundo ele por causa da coluna era a melhor posição para ficar.

Certo dia, deparei-me com ele colocando uma dessas antenas na sala de casa. Foi uma confusão. Minha mãe teve que intervir para convencê-lo a colocá-la do lado de fora. Outra vez, acordei à noite por volta das duas horas, com ele, munido de um estilingue, atacando os gatos que viam namorar em cima de casa.

Curtíamo-nos muito. Todos gostavam dele.

E essas são as memórias que carrego comigo de uma pessoa super especial, que nos enchia de alegria somente com sua presença e que até hoje, faz uma falta tremenda, mas que ainda vive em nossos corações.

Carlos Henrique Pereira Balbino 
 

Filho de Carlos Alberto Barbosa Balbino (Carlão) e de Cleide Lene de Souza Pereira Balbino. Administrador de empresas, ex-secretário adjunto de finanças do município de Areial.  Natural da cidade de Sobradinho – DF e Areialense de coração.


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A misteriosa cobra da serra de Chico Januário


Contava Sr. Chico Januário, contador de anedotas e residente no Sítio Lagoa Comprida, que na serra do seu sítio havia uma cobra gigante, conhecida como “Cobra veado”, tipo anaconda.

Segundo Sr. Chico, ela se alimentava de bezerros dos criadores vizinhos do seusítio. Ele nos amedrontava com história sobre essa bendita cobra. Falava que era encantada: após meia noite ela se transformava em uma mulher de cabelos longos e cega de um olho.

Sempre aparecia sentada em uma pedra fumando cigarro.  Eu, que ia sempre a casa de minha irmã (Socorro, casada comJoãode Chico Januário) passava pela pedra procurando a bendita cobra, muito curiosa olhando em volta pra ver se via vestidos de sua roupa ou piolas de cigarros.

Sempre achava piolas, pois sempre passavam fumantes por ali. Imaginação de criança é fogo! A finalidade dessa história eranos proteger, porque ele soltava os bois na serra e sempre tinha boi brabo.  Sr. Chico tinha muito cuidado, porque sempre passávamos pela serra, inclusive pra tomar banho no açude, que ainda tem depois da serra.

Era nossa aventura tomar banho no açude que também tinha sereia e cantava pra chamaros homens e os afogar. Verdade ou caô?

Zilma Fires

Filha de Epitácio Barbosa e Maria Fires. Moro em Fortaleza.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O ladrão no muro de Eta Benjamim


No mês de janeiro de 2009,  mais  ou menos na primeira semana,  eu estava de ferias  em Areial,  na casa  dos  meus  pais. Era uma noite comum.  Todos nós estávamos  dormindo,   menos  a minha  mãe,   conhecida  como dona  Odaci esposa  de  Eta Benjamim, o carreteiro.

Eu lá  no  meu  quarto  escutei  alguém batendo na porta. Abri pra ver,  era  a  minha  mãe  falando bem  baixinho,  pra não fazer barulho: “Will,  tem alguém dentro  do muro.  acho  que  é ladrão”. Eu havia acabado de acordar,  medroso que não  nego a ninguém.

Era mais ou menos  umas 2 horas  da madrugada. Apaguei as luzes da casa fui acordar  o meu  pai (Eta).  Combinamos:  “vamos sair nós  dois  ao mesmo tempo:  o senhor pela  porta  da cozinha  e eu pela porta da sala”.  Ao mesmo tempo,  fizemos  o maior barulho dentro de casa  gritando:  “Pega ladrão!  Pega este filho da p...!”

Quando demos conta,  não era nada demais.   Apenas o nosso primo Aécio,   falando e apanhado  uns tijolos  de um lado pra outro.   Ele já devia de ter empilhado uns 15 tijolos de um canto pra outro.  Enquanto morríamos de medo achando que era um ladrão, o coitado estava  mudando tijolos  e falando de times de futebol .

Ao ver  que  era apenas ele ,   relaxamos  do susto que ele nos deu e mandamos  ele  ir embora . Veja  só tantas coisas  pra o danado fazer  e ele foi mexer  logo  em tijolos  da  casa  de alguém,  depois  das 2h da manhã (rs).

Esta é mais  uma historia verídica que aconteceu  na nossa maravilhosa cidade de Areial, terra mista da Borborema,  a qual eu tenho muito orgulho.

Odailson Barbosa Sales (Will)

Filho de Edson Sales (Eta  carreteiro)  e Odaci Barbosa Sales.  
Tenho 29 anos, casado com Aline (filha de Claudete de  Antônio Viana) .
Sou Sommelier (profissional especializado em vinhos e seus serviços).  Apaixonado  por vinhos  e  viajar  de caminhao nas  férias  com o meu  heroi da estrada,  o meu pai. Moro em São Paulo, desde 2000.

Quando a Barragem Sangrou



Era tarde de Sexta-feira Santa de 1985, mais ou menos a segunda parte de Sansão e Dalila, na Sessão da Tarde, na Rede Globo, quando começou cair um toró em Areial. Em pouco tempo a Barragem encheu. Não foram mais que minutos para que a água começasse lavar o balde.

Antes, tinha a casinha do motor que abastecia a lavanderia pública. Nesse dia, vários meninos subiam na “casinha” e pulavam tanto na Barragem como para a rua que passa nos fundos da casa da casa de seu Tutu. A rua virou um lago. Cada vez mais água subindo e subindo.

Para quem estava de longe, era um espetáculo, mas para quem morava perto não deveria ser nada divertido, pois os trovões aumentavam e todas as águas que vinham do sítio de Miguel Gaudêncio, de Gabriel e de Josué, tinha o destino certo: a Barragem.

Falam que a Barragem estourou, mas ela transbordava por cima do balde. Naquela época não havia ainda as casas ali perto da mãe de João Eudes, era um terreno baldio. A enxurrada desceu morro abaixo levando lama, passou pelos fundos da casa de Zé Nivaldo, no quintal de dona Virgínia e entrou no bar de Valter carregando garrafas e o que encontrasse pela frente.

Teve gente que viu traíra nadando no meio fio. No outro dia ainda havia pacotes de café Cruz de Lorena espelhado pelas ruas, misturados com cacos de garrafa e muita lama. Dois ou três dias depois tudo ainda era possível ver “nego bom”, de duas cabeças perdidos perto do bar de Santo, ninguém sabia de onde tinha vindo.

Até hoje eu me lembro da enchente da Barragem e dos vários mitos que se criou em torno dela. Uns dizem que foi castigo porque um comerciante soltou uma pilhéria na hora da procissão, outros diziam que era uma resposta a uma blasfêmia de um dono de bodega.

E ainda havia as mentiras. Disseram que um comerciante do ramo de compra e venda de cereais estava dormindo, quando acordou havia uma tilápia enorme dentro de sua rede. Ele agarrou-se com ela pensando ser sua esposa, de tão grande que era o peixe.

 Zélio Sales

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

César e Augusto: uma dupla de Seresteiros


Quem me contou essa foi César, via MSN.

Antes de ser um pai de família responsável, Marcos César (de Biba Aires) era mais atrapalhado que cace-outro. Além de gostar de tomar uns bons gorós, não podia ouvir uma lata batendo que ia atrás do som, pois sabia que ali tinha farra. Tendo farra, ele estava de dentro e só saía quando o furdunço acabace.

Todo boêmio que se preza sempre tem um companheiro de copo e  folia. Com Cesar não era diferente. Vivia para cima e para baixo com Augusto de Seu Augusto. No ano de 1990, os dois estavam na Festa da Capela, também conhecida por Remela. Foi ali que se sucedeu a história de hoje.

A Capela é um povoado no Sítio Manguape de Lagoa de Roça. Até os anos 1990, era famoso por sua festa de padroeiro, tinha parque e tudo. Porém é um vilarejo  tipo camisa:  só tem casa de um lado. Mas que na época das festas lotava de pessoas de diversas localidades.

Em 1990, Cesar e Augusto já tinha tomado muitas, menos talvez que o seresteiro que estava tocando no pavilhão. Por volta das 3h da madruga, segundo César, o seresteiro já estava para lá de Bagdá. Caindo pelas tabelas de bêbado. A dupla dinâmica não contou conversa. Um tomou conta do teclado e outro do microfone. Detalhe: ambos não sabiam uma única nota musical e voz que era bom, nada.

O mais engraçado, de acordo com o próprio Cesar, é que o povo que,  já devia ter tomado a sua quota e um pouco mais de cerveja, Montilla e tantas outras bebidas não deu por si nem expulsou os dois seresteiros amadores, que só arredaram o pé depois de se divertirem muito e dá boas risadas da cara do seresteiro.


Marcos Cesar
Filho de João Aires (Biba) e  Margarida Aires.  Pequeno empresário na área de transportes.  Bacharel em Histórias da Religião (UFRJ).  Casado  há  15 anos com Iris Diane( Neta de Sr. Epitácio Barbosa). Tenho  uma filha.  Moro no Rio de Janeiro.  

Seu João Alfredo e o gato na geledeira




Tia Maria, esposa de João Alfredo, criava um gato e tinha muita estima pelo bichano.  Ele já estava ficando velho e só vivia dormindo na ponta do balcão da mercearia ou na outra ponta dois vidros:  um de doce de coco e outro de mamão não relaxava para os fregueses.

A rapaziada, pra distrair tia Maria ou seu João, sempre mandava tia Maria fritar rolinha, peixe ou outra carne pra servir de tira gosto. Seu João também ia lá pra cozinha e deixava a mercearia sem ninguém da casa.  Era o momento em que os guris, os pequenos, aproveitavam e metiam a mão nos doces e comiam.

Já os mais velhos ficavam esperando a carne chegar, e nesse intervalo era aquela “risadeira” total. Os que mais davam trabalho era João Bosco, Toinho de dona Beli, João Buchudo de Joca Victor,  os mais famosos,  pra não falar de  Valdeci  Pereira, Naia de Mané Preá e muitos outros .

Certo dia, não tendo mais  o que fazer, aprontaram essa pra tia Maria e seu João. Mandaram os dois fritar peixe e carne novamente e lá pelas tantas, pegaram o gato de estimação que estava dormindo e,  aproveitando a ausência dos dois, colocaram o bicho dentro da geladeira.

Depois de muita conversa e risadas, vem seu João com as carnes; em seguida, tia Maria.  Um deles já querendo fazer um susto a tia, pede um refrigerante (a geladeira era dessas antigas mas que gelava em poucos minutos, porém gastava uma energia violenta ).

 Ao pedir o refrigerante a “risadeira” já havia começado.  Quando tia abre a porta da geladeira, o gato que estava assombrado e gelado,  dá um miado enorme em cima de Tia Maria.  O susto foi tão grande que quase ela desmaia, e seu João vendo aquilo, naquela sua calma pergunta: “Que mulesta é isso? O que esse cachorro da gangrena foi fazer aí?

Foi aquela confusão, quem teria colocado o gato na geladeira?  Seu João,  pra defender a sua amada fala:  “Como é que um cabra desse tem coragem de assustar uma princesa dessa, vendo a hora matar do coração e me deixar viúvo?”.

Detalhe: Zezé Torrão e Adelson Benjamin (prefeito de) que moravam fora de Areial e chegando aqui para ficar, foram logo procurar seu João Alfredo e vendo a situação da velha geladeira e com consumo alto de energia, compraram  uma geladeira nova e dão de presente a seu João. Eles foram os protagonistas dessa estória.

Trecho extraído do livro “Causos e estórias vividas pelo  povo dessa terra Areial, a  ser publicado )   

Eudes Donato

Filho de Antônio Apolinário Gonçalves e Hilda Donato Gonçalves, Funcionário Público da Empresa de Correios e Telégrafos, pesquisador, colecionador de vários itens, como gibis antigos, discos de vinil, livros sobre o cangaço, e grande acervo esportivo. Colaborador em pesquisas para a revista Placar da Editora Abril, Revista da Esperança, livro sobre o América Futebol Clube da cidade de Esperança, etc.


domingo, 23 de janeiro de 2011

Por onde anda Zé Paz?


Há sete dias, desde domingo (16/01), os familiares procuram por José Paz dos Santos, Zé Paz. Não se sabe se está vivo ou morto. Pessoas já dão por certo seu falecimento, apenas estão esperando achar o cadáver, assim como o foi com João Pimenta.

Lembro-me que em agosto de 2005, quando ainda estava na faculdade,  tínhamos que fazer uma reportagem. Interessei-me pela história dele, já que foi nosso vizinho. Cresci na Rua Balbino do Carmo, mesma rua onde Zé morava, antes de ficar viúvo e ter sua família destroçada.

Passei cinco dias acompanhando-o, sem ser observado por ele. Tentei refazer seus passos, entrevistei sua irmã (Nazaré), sua sobrinha (Socorro Simão), seu “ex-patrão” (Hugo Luna), o proprietário do “cantinho” onde morava. Não conversei com nenhum de seus nove filhos, moravam fora.

Segundo Nazaré, antes de se casar Zé era muito vaidoso, andava perfumado, “alinhado, com cordões  de ouro e um relógio Oriente com 24 rubis”.  Mesmo assim, a família de Maria do Carmo (Dezinha) não queria o namoro,  só aceitaram o casamento porque ela havia engravidado.

Em meio à pobreza extrema, tiveram nove filhos. O parto da última levou ao falecimento da mãe. Os avós maternos, que já cuidavam de alguns dos netos, assumiram a paternidade dos órfãos. Zé foi morar com os pais e a irmã, ainda solteira. Com a morte dos pais e o casamento da irmã, ficou sem lar.

A casa foi vendida e a “herança” repartida entre os irmãos.  Zé passou a viver  aqui e ali, primeiro na antiga Lavandeira, tendo como companheiros os  insetos e o álcool. A Lavanderia foi demolida e Zé ficou sem teto. Bebia cada vez mais. Embragava-se para afogar as mágoas, sem perceber que o náufrago era ele.

Foi morar num cubículo de 2x3, alugado pela irmã, que também pagava para que lavassem suas roupas.  Nenhum conforto. Apenas um sanitário e dois armadores de rede, nem energia elétrica havia. A irmã e o proprietário do imóvel, com medo que nos dias de embriaguez morresse eletrocutado, cortaram a luz. E assim passou a viver.

O vício o debilitava e o  tornava invisível para a sociedade. Vivia como uma “coisa” e com  tal função a atrapalhar os passantes.  As roupas cada dia mais imunda, tanto pelo suor quanto pela urina e vômito. Passava até três dias sem visitar Nazareé, onde fazia as refeições.

Ninguém o queria por perto. Uns diziam que fedia; outros, devido à “saliência”. Para   outros tantos  não era mais humano, apenas  um “troço” do qual queriam distância. E assim, esperava apenas último suspiro, pois a morte física já havia sido decretada há anos, muito antes de desaparecer.

Torço que seja encontrado: vivo ou morto.  Segundo algumas pessoas de Areial, desde o anúncio de seu desaparecimento, seu filho (Ivanildo) não tem tido sossego. Vive de uma ponta a outro procurando por aquele que poucas vezes foi chamado de “pai” e que paz mesmo só teve no sobrenome. 


Zélio Sales

sábado, 22 de janeiro de 2011

Ser areialense é...



 Ser areialense é ser a pessoa atuante na história do seu povo, passada e futuro. É ser moleque no seu tempo de criança e ter roubado as goiabas do sítio de seu Nanim (hoje já com casas e ruas). Ser areialense era ter bebido (e ainda se bebe) a água do Cacimbão e carregado água da em galão de zinco ou barril de borracha e ter pescado de anzol na Barragem, com abundância de traíra e tilápias  e ver as  galinhas d’água.

Ser areialense era ter o privilégio de aprender a nadar no Açude Velho escondido dos pais (não aprendi a nadar ). Ser areialense era ter dançado “Noite de ano” no forró e no “cortiço”  de Antônio Pereira.

Ser areialense era ter (os mais antigos) estudado na escola onde hoje está a praça de eventos da cidade, escola com sua calçada bem alta e com seu piso tão liso (era cimento queimado como se falava) que muita gente quebrou perna ao escorregar (meu cunhado Toinho Barbosa foi um deles), ter professora como dona Nanu, dona Adailde Alcoforado, dona Lourdes de Tio Deca e dona Josefa Macena.

Ser areialense era também ter estudado (já no meu tempo) na escola Inácio Gondim, com as professoras, Bernadete,  mais conhecida como Berninha (minha primeira professora,   sobrinha do meu pai ), dona Mazinha também minha professora, Maria Barbosa, dona Beli de Antônio Barbosa e muitas outras.

Ser areialense era ter comido “cachorros-quentes” de seu Dunga, com aqueles pães enormes e com carnes de todo tipo (de galinha de capoeira, de peru, de bode e boi), debaixo das barracas de palhoça de palha de coco catolé (o local onde hoje é a praça de eventos),  nos finais de ano, acompanhado dos refrigerantes Crush e Grapete os refrigerantes da época e tudo sem ser gelado.
                          
Ser areialense era escutar a difusora de Severino Donato nas festas do mês de maio e,  nos finais de ano,  andar no carrossel de Sebastião Victor todo de madeira e empurrado por braços humanos.

Ser areialense era correr nos cavalinhos e canoas do parque Lima e escutar os postais sonoros de Raimundo do Parque.  Era  ter tomado banho no tanque Saraíso e ver a fabricação de telhas e tijolos na olaria de Antônio Pereira.

Ser Areialense era ter participado do “Centro Estudantil de Areial”. Nos finais de semana com as moças e rapazes que se reuniam no salão (hoje bar do Carlinhos) para escutar músicas da Jovem Guarda.  Ter dançado nos assustados,  em que se fazia numa residência com muito respeito.
                         
Ser areialense era ter provado as delícias dos doces e cocadas na barraca de  seu Belo, ao término da missa, aos domingos e no mesmo trajeto (no caso, tempo de Natal) entrar na casa de dona Maricota e ver sua lapinha ou presépio todo iluminado.

Ser areialense era ter a alegria de ir para Campina Grande na Marinete (era chamado também “a sopa”) de seu Chico Pereira, indo por Lagoa Salgada, Montadas e chegando aos Cuités.  Na volta pra casa, à  de tardinha,  com o chofer Valdemar Pereira, já  na entrada da cidade,  vinha apitando, dando a entender a população que estava chegando.

Ser areialense era assistir uma partida de futebol do antigo Atlético no campo de aveloz com seus baluartes futebolísticos, como o grande goleiro Gute  e Williams,  respectivamente, o Zé Miguel, Antônio Basílio, Jaime Melo, Edmilson de Chico Tito, Agamenon, Jaime Tito, Zequinha, Milu, Murilo, Nego de Zu, Chaguinha e muitos outros.

Ser areialense era ter cortado o cabelo com seu  Manoel Luiz, com aquele jeito dele, seu cabelo na brilhantina e bem engomado. Era ter comprado na bodega de Sebastião Victor, Pedro Grangeiro, Severino Cândido, Severino Donato, Zé Leite, Antônio Nazário, Zé Luiz e Zé Bento. 
Ser Areialense era ter visto os consertos de tamboretes, mesas e cadeiras na oficina de seu Zé Vieira, do flandrileiro Zé Capim com fabricação de lamparinas, bacias de zinco, latas d'água e ralos de lata de óleo, para ralar milho no tempo de São João.  Sabino com sua fabricação de cocadas de coco e também feitas de rapadura, das sordas e sequilhos (por coincidência os três moravam pertinho um do outro).

 Ser areialense era admirar os inventos de Zé Bebé (uma delas foi uma bicicleta toda de madeira), também com os trabalhos de carpintaria de seu Né,  que nas horas vagas também cortava cabelos e barba.

Ser areialense era escutar as estórias de João Alfredo e comer dos doces de tia Maria. Era, aos domingos,  assistir a missa com padre Palmeira e escutar aqueles sermões.

Quem não conheceu Severino “pão-doce” que consertava sapato e alpercatas com aquela enorme barriga? Diziam que tinha uma solitária na barriga. Seu quartinho era na rua Joaquim Fonseca,  antigos quartinhos de Zé  Bento. Também quem não se lembra de dona Hozana com seus picados de porco e galinhas, no mesmo local vizinho de Severino “pão-doce”?

Ser Areialense era sermos um dos maiores produtores de batatinha da Paraíba como o Sr, Antônio Apolinário (meu pai), Antônio Barbosa Alves, Chico Januário, seu Raimundo, Manuel Rodrigues e Dorgival Cabral.
                              
Ser areialense era se refrigerar no oitão da igreja nos dias quentes e se deliciar com a brisa dos ventos que ali sopram até hoje.

Ser areialense era ter tido uma candidata miss Paraíba (Maria das Graças Donato (Gracinha, Garota Cenecista de Areial) que concorreu no cenário nacional (classificada em quinto lugar no Brasil).

Enfim, ser areialense é ter orgulho e não ter vergonha de dizer que é dessa terra chamada, Areial.
                                    

Trecho extraído do livro: “História de Areial”, a ser lançado.


Eudes Donato

Filho de Antônio Apolinário Gonçalves e Hilda Donato Gonçalves, Funcionário Público da Empresa de Correios e Telégrafos, pesquisador, colecionador de vários itens, como gibis antigos, discos de vinil, livros sobre o cangaço, e grande acervo esportivo. Colaborador em pesquisas para a revista Placar da Editora Abril, Revista da Esperança, livro sobre o América Futebol Clube da cidade de Esperança, etc.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Saudade de Areial e das festas de “Noite de ano”




Tenho acompanhado as histórias que estão sendo publicadas no blog e fico imaginando a reação das pessoas que, como eu, estão longe de Areial. Gosto, particularmente,  daquelas que, de certa forma,  fiz parte.

Areial realmente é uma cidade fantástica.  Como a maioria dos areialenses, penso em voltar e viver lá por muitos anos, pois carrego comigo a vontade de fazer parte desta cidade que sempre vai estar comigo aonde eu for. Tenho a impressão de que quanto mais longe, maior a vontade de estar perto.

Nunca fui muito bom de contar histórias, mas o que marcou o tempo em que eu vivi nesta cidade, foi a festa de fim de ano, a qual chamávamos de “Noite de ano”.  Quem nunca fez das ‘tripas coração’, pra amanhecer o dia andando de um lado pro outro na Rua São José?

 Ir pra casa só depois de amanhecer era uma questão de honra, sem contar a aventura de entrar em todos os forrós que se espalhavam pelo centro da cidade e até por ruas mais distantes.  Lembro como se fosse hoje,  minha mãe chamava de “cortiço” e até hoje não sei o porquê do nome.  

Era impressionante como a cidade se transformava pra festejar a “passagem de ano”. O apagar das luzes à meia noite era a hora mais marcante de toda a festa.

O tempo mudou, as festas, as músicas também mudaram e até as pessoas.  Mas, uma coisa ainda está viva dentro de cada areialense que viveu aquela época:  a vontade de voltar e a ilusão de que tudo fosse como antes, pois a ideia que agente tem quando está  fora é que o tempo parou.  Pura ilusão, pois  a vida continua, o progresso continua e a cidade nos espera de braços aberto para o dia  em que possamos voltar...   


Welligton granjeiro

 Filho de Tarcísio Grangeiro e Mirian Grangeiro,
Técnico em automação industrial, mais um apaixonado por Areial, doido pra voltar pra essa terra. 

Atualmente moro em Macapá (Amapá).