Em 1993, eu tinha 14 anos e era um magricela desengonçado de 46 kg 1,59, mas já trabalhava. Pegava no batente no mercadinho de Rosivaldo de Antônio Bento, onde hoje é de Edriano de Ivanilde. Comecei sendo repositor e pesador de açúcar, depois virei caixa, gerente e uma espécie de faz-tudo.
Tive amigos de turma que vieram estudando comigo desde a 2ª série, com Gorete Filipe, todos na mesma faixa etária. Mas como comecei a trabalhar. Convenci minha mãe que poderia ir estudar à noite e manter o mesmo desempenho dos anos anteriores. Ela concordou e passei para o período noturno.
Quando cheguei à turma percebi que todo mundo era mais velho que eu, uma média de três anos. A turma da noite tinha a fama de ser bagunceira, gazear aula e viver na esbórnia. De fato, mais complicado, muitos professores moravam fora, fazia com que faltassem muito. Logo, muitas aulas vagas.
Era época do Técnico em Contabilidade e vinha um ônibus de Esperança. Na minha sala havia gente que tinha desistido, sido reprovados e outro tanto que estava voltando a estudar. Era muita gente: César de Biba, Paulo de dona Paulina, Irandi, Altair, Célia de Dado Vieira, Ana Lúcia de Bela Pimenta e a turma de Esperança (Roseane e Alcilene de Coleguinha – uma garota linda que encantava a todos – eram as mais chegadas à turma).
Nas primeiras aulas vagas, a galera já queria ir para o trailer de Armando de Nino, que ficava perto do portão de entrada do colégio, para tomar um quintinho de cana com Pepsi ou pipoca Karintó. No segundo dia, mais aula vaga e mais quintinho. Como não tínhamos dinheiro para beber todo dia, abrimos uma conta em Armando. Passamos a beber fiado.
Era é uma época de seca e havia uma Frente de Emergência – “Cachorra Maga” – e Irandi trabalhava nela. Como eu também trabalhava, tínhamos como quitar a conta no fim de semana. Assim, Armando sempre vendia fiado. Alcilene pagava igual, era uma mulher moderna. Irandi apaixonou-se logo por ela. Ele e metade da torcida do flamengo.
Para descontrair, a própria Alcilene inventou de criar um jornalzinho da classe. Nele figurava Irandi, como delegado da “Cachorra Maga” e Ana Carolina (apelido para professora Nina). Na coluna social, só dava o delegado da “Cachorra Maga” e Ana Carolina, com seus modelitos arrojados. Todo dia tinha, jornal e leitura da coluna social. Era uma risadagem só. Depois da aula, mas um quintinho.
Gazeava aula, acompanhado o grupo, para me enturmar, quebrando o acordo que fiz com minha mãe. Entrei para alta roda e saí do grupo dos nerds. Minhas notas que eram excelentes, cansei de já “passar” no terceiro bimestre, despencavam na mesma velocidade que descíamos para o trailer. Comecei a me dar mal em matemática, ministrada por uma professora de Esperança, Sueli. Fui para final, sem que minha mãe soubesse, passei com nota 6.0.
Quase fui reprovado na escola, mas aprendi a conviver com pessoas maravilhosas, palhaças, como César de Biba, um humorista nato, que não perdoava ninguém, fazia todo mundo gargalhar na classe. Convive com Alcilene e uma galera mais experiente. Gente diferente. Aprendi a compreender pensamentos diferentes, a ser mais tolerante e não levar a vida de forma tão séria.
Foi ainda nessa época que me reaproximei de Irandi, pois vivia lá quando era pequeno, e de lá para cá somos amigos. Começamos a curtir rock e sermos os diferentes de Areial. Em 1994, ouvíamos Nirvana Guns’ N Roses e outras bandas mais heavy. Nosso point virou o bar de Geraldinho (Geraldo Cândido). Mas isso é assunto para outro texto.
Só voltei a ter uma turma tão legal na faculdade, pois era uma galera heterogênea. Eta, que saudade de minha turma e de tanta gente que há anos que não vejo! Graças ao nosso projeto, voltei a ter contato com César. Paulo eu vi agora quando esteve em Areial, numa conversa rápida, e agora é um de nossos seguidores do Orkut.
Zélio Sales
Filho de Margarida dos Santos Sales (de seu Zé Pedro) e Sebastião Salles (Basto Gabriel). Jornalista, blogueiro e descobridor de mundos. Nasci e cresci em Areial, mas vivo em Campina Grande, desde 2006.
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