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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A mãe d’água e os bailarinos aquáticos





Tem coisa que, quando é gravada em nossa memória, não esquecemos jamais. Podemos até lembrar com certa licença poética. As coisas da infância são as que ficam impregnadas em nossa  memória para sempre.

Não sei exatamente o ano, pois eu era criança, aconteceu um fato que volta  e passa no  de telão de minha memória  com cores vivas, sons fortes e uma riqueza de detalhe que até parece uma obra de ficção. No entanto, aconteceu tal como vou descrever.

Era uma época em que na Barragem havia muitos peixes. Não as carpas douradas postas na gestão de Assis Fernandes e que viraram atração turística: as pessoas iam diariamente dar-lhes pão. Eram nossas tilápias e piabinhas.  A Barragem tinha uma porção considerável de água e peixe.

Dona Zefa Basílio, uma senhora que tinha perturbações mentais e passava época com maiores problemas, vivia por Areial.  Não perturbava, não jogava pedra, não causava males às pessoas. Numa de suas crises, mergulhou na Barragem, com  toda a roupa.

As pessoas correram para acudi-la, pensando que fosse morrer afogada. Porém, para delírio da multidão, o espetáculo foi magnífico. Enquanto nadava,  um cardume de peixe a acompanhava, dando salto ornamentais. Parecia que a coreografia havia sido ensaiada e ela era uma espécie de Rainha dos peixes, com  um séquito de súditos aquáticos.

Todos ficaram boquiabertos. Em cada braçada e batida de pé, ela se sentia livre, leve e solta, controlando a natureza e matando de inveja os curiosos. Nunca tinha visto tamanho espetáculo.  Dona Zefa aproveitava ainda para cantar, em altíssimo e bom som: Brava Gente Brasileira/ Longe vá temor servil/ Ou ficar a Pátria livre,/Ou morrer pelo Brasil./ Ou ficar a Pátria livre, Ou morrer pelo Brasil.

Muito daquela performance só foi ter sentido para mim quando descobri que aquela música era o Hino da Independência, um  dos mais importantes de nosso país e aquela senhora sabia a letra e cantava aos quatro ventos.

Naquele dia, dona Zefa foi completamente livre. Ignorava os julgamentos alheios e só parou de cantar e nadar quando não tinha mais fôlego. Talvez, se ela tivesse vivido mais e conhecido Bráulio Tavares, iria aprender que “os loucos e os visionários são os dicionários dos sonhos de Deus”.

Foi com essa mulher comum, com seu vocabulário ingênuo que eu comecei a entender palavras do grande Aurélio que é a vida.  Esta só tem sentido se for aproveitada em toda sua magnitude e os grandes espetáculos surgem de pequenas ações e gestos simples.

Salve dona Zefa! Ela faz parte da Brava gente Brasileira que espanta o temor servil.

 Zélio Sales 

Filho de Margarida dos Santos  Sales (de seu Zé Pedro) e Sebastião Salles (Basto Gabriel). Jornalista, blogueiro e descobridor de mundos. Nasci  e cresci em Areial, mas vivo em Campina Grande, desde 2006.

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