É incrível o poder que uma história tem, quando nela existe o ingrediente sobrenatural. Como toda cidade pequena, Areial não poderia abrir mão de suas lendas, mitos e histórias de malassombro. Mesmo já sendo uma lenda urbana, a história da noiva do banheiro tinha sua versão made in Areial.
Nos fins dos anos 1980, a história da futura esposa fantasma voltou com força e o colégio Francisco Apolinário era o habitat natural dessa desafortunada moça, que ninguém sabe como e do que morreu, porém aparecia às suas “vítimas” trajando a roupa característica como se fosse subir ao altar ou depois de tê-lo feito.
O colégio, como sempre foi chamado o Francisco Apolinário, já era um lugar de fantasmas. Uns ouviam vassoura cair, quando iam olhar o bendito instrumento estava no mesmo lugar que foi deixado; outros, ouviam o apagador bater por horas a fio em um quadro que ecoava por noite adentro até nos feriados.
Para acreditarem em uma noiva que assustava os adolescentes era um pulo. Detalhe: a nubente só aparecia no banheiro dos homens, embora as meninas também tivessem pânico. Lembro-muito bem que nós segurávamos até onde dava para ir ao banheiro ou esperava para o intervalo e ir acompanhado, mesmo sabendo que nossa companhia estava com mais medo que nós.
Um dia qualquer, ouve-se um grito. Cláudio de João Pedro da madeireira (mais conhecido como Menininho) tinha ido ao banheiro e voltava de lá mais gago do que já era, amarelo e sem voz. Havia visto “a prometida” no sanitário do primeiro bloco acenando para ele. Foi uma correria só. Quem danado teria coragem de conferir se não passava de uma invenção ou confirmar a história?
Ficou aquele impasse até que um grupo de funcionários e alunos entrou no toalete, como se fossem caça-fantasmas. Para surpresa e alegria geral da Nação, descobriu-se quem era a misteriosa noiva: uma coruja. O bicho de olhos grandes estava pousado na meia parede que dividia os banheiros e emitia seu crocitar característico.
Pronto! Estávamos salvos da noiva misteriosa? Sabíamos que não passava de uma coruja? Mentira! Mesmo achando que, naquele dia, não passava de uma coruja ninguém tinha virado corajoso da noite para o dia. Sabíamos que mais cedo ou mais tarde a misteriosa prometida estaria ali com seu vestido branco e algodão no nariz a procura de seu noivo.
Zélio Sales